Raphael Machado

A hipergamia sempre foi uma característica feminina. Ela não é um fenômeno da modernidade ou da pós-modernidade, tampouco há qualquer demonstração de que ela estaria aumentando. Aquilo que chamam de hipergamia não é senão a seletividade feminina que empurra na direção do aprimoramento do povo pelo favorecimento dos melhores homens. Em sua raiz sociobiológica evolucionária, a hipergamia é o mecanismo que visa dar as melhores chances de sobrevivência e triunfo à prole (nisso, se vincula ao casamento). A ideia de que as mulheres deveriam ser qualquer coisa senão seletivas, que elas deveriam casar "por amor", ou "por piedade", não é apenas aberrante, a-histórica e contrária à natureza, ela é também uma verdadeira ameaça à qualidade populacional. O problema, porém, é se a seletividade é da natureza da mulher e constitui um "algoritmo" entranhado nela pelo Criador para o benefício do povo, também é verdadeiro que as qualidades pelas quais a mulher fará a seleção mudam conforme os padrões culturais dominantes. Sempre houve certos graus de variação nos fatores pelos quais uma mulher selecionará um homem, ainda que força, dinheiro, agressividade, status e inteligência quase sempre tenham desempenhado um papel nessa escolha, com a hierarquia de qualidades variando conforme a mulher (por criação, QI, predisposições genéticas, etc.). O problema é que com a própria qualidade humana diminuindo e com a cultura hegemônica sendo uma cultura decadente, é inevitável que a hipergamia feminina será mobilizada para selecionar homens que ela, enquanto uma mulher de tipo inferior, considera um homem de qualidade (também um tipo inferior). A realidade é que não raro um tipo humano que seria considerado um pária em outras eras pode conseguir encontrar parceiras sexuais simplesmente porque a cultura dominante e os valores hegemônicos o demarcam como alguém de status. O problema não é, portanto, a hipergamia, um mecanismo absolutamente perfeito da natureza, mas o fato o próprio fato da decadência civilizacional que nos fez viver em uma era marcada pelo triunfo do chandala, do pária, do lumpem, do refugo social. É a inversão absoluta da sociedade tradicional.

Bom ver que o Brasil está pretendendo aumentar gradualmente, ano após ano, o orçamento de defesa. Agora, precisa cuidar melhor das próprias empresas da área, bem como tomar as decisões corretas em vez de ficar querendo pegar sucata de país da OTAN.

O cuidado com os animais e o tratamento justo e respeitoso com eles (inclusive com aqueles que comeremos) é aquilo que se espera do homem e que cabe ao homem como custódio/pastor do Ser. A modernidade e a pós-modernidade, porém, inauguram ou intensificam uma miríade de confusões em relação a esse tema, que não fazem senão afastar o homem de sua incumbência existencial (com consequências nefastas para toda a criação). O homem contemporâneo acredita que tratar os animais bem é tratá-los como humanos, porque o homem perdeu qualquer senso da realidade que não seja antropocêntrica. Parece paradoxal, mas é como é. Como o homem perdeu qualquer centro que não seja o próprio homem, ele só consegue não tratar um animal como objeto na medida em que o antropomorfiza, que o trata como humano. Naturalmente, esse não é o sentido do cuidado do homem com os entes dotados de sopro vital, já que o cuidado adequado envolve tutelar uma frutificação do ente a partir dele próprio, o cão como cão, o gato como gato, a vaca como vaca, a abelha como abelha, a macieira como macieira, a laranjeira como laranjeira, o abeto como abeto. Tratar outros entes não humanos como humanos, portanto, pertence a um modo inautêntico de lidar com o mundo - que não é muito melhor que o outro modo considerado a "única alternativa", que é a objetificação absoluta, em que todos os entes são tratados exclusivamente como instrumentos de aproveitamento, como meios de multiplicação material. A objetificação absoluta do mundo, além de alienar o homem (e de participar na ruptura entre homem e mundo), culmina na objetificação dos outros homens e, eventualmente, de si mesmo. Porque a inautenticidade não é estática, desdobrando-se sempre em um processo de decadência que se aprofunda. Em uma perspectiva não filosófica, mas metafísica em um sentido tradicional, também observei uma confusão em alguns debates virtuais. Como a "teologia popular" reduziu a tripartição do homem (corpo, alma, espírito) a uma bipartição do homem (corpo, alma/espírito), alguns cristãos têm vendido a ideia de que os animais não possuem alma/espírito, sendo apenas corpo e, portanto, não sendo diferentes de pedras ou outros objetos inanimados. Essa é uma visão modernista sobre os animais. Os animais obviamente possuem alma, porque do contrário eles não teriam percepção, imaginação ou memória, as quais são algumas das atividades da alma e não são meras atividades mecânicas. O que os animais não possuem é o nous, o intelecto (que em muitos autores se vincula à ideia do espírito eterno), que é confluência de um nous cósmico/divino e que permite ao homem pensar "racionalmente", tornando-o efetivamente humano (e ao mesmo tempo potencialmente divino). Essa confusão, porém, mostra que os "conservadores" não são senão modernistas revoltados com a pós-modernidade. Se revoltam contra Butler querendo retornar a Descartes, achando que estão empreendendo, com isso, alguma grande revolta "tradicionalista". Enfim, é trágico como a mesma sociedade que faz grandes passeatas pela morte de um animal e que substitui bebês por cães, é também a sociedade que produz a sua carne a partir de fábricas que mais parecem campos de concentração e que não são senão grandes aparatos de tortura. Quão difícil seria tratar os animais como animais e, enquanto animais, tratá-los bem, com cuidado e respeito?

Ameaça de Bomba na Embaixada Russa no Brasil Foi divulgada hoje a informação de que a embaixada russa no Brasil teria sido contatada por telefone, informando da presença de uma bomba no lugar. A Polícia Militar do Distrito Federal foi acionada e está fazendo buscas. Ainda aguarda-se a informação sobre se há realmente uma bomba na embaixada. Mas mesmo que não haja estamos diante aí de um caso de terrorismo, até porque a nossa legislação comporta também em seu tipo a "ameaça" de ataque (e, para a nossa legislação, a mera insinuação já configura ameaça). Ou seja, o terrorismo já está configurado, independentemente de haver ou não haver artefato ali. Indo adiante nessa questão, resta examinar os possíveis responsáveis por este tipo de coisa. Em todo caso de ameaça desse tipo, sempre se deve resguardar a possibilidade de ser um troll ou um louco ou, em geral, de uma pessoa sem conexões ideológicas ou coletivas específicas. Mas também é necessário especular possíveis responsáveis com motivações políticas, especialmente porque estamos em um período geopolítico conturbado. A primeira suspeita deve recair sobre a SBU. A SBU, que é a principal agência de segurança e inteligência da Ucrânia, não é nada além de uma organização terrorista hoje em dia. Tendo tido participação no assassinato de Daria Dugina, de Vladlen Tatarsky e, ao que tudo indica, no ataque ao Crocus City Hall, o terrorismo já se tornou práxis formal da Ucrânia - especialmente na medida em que Zelensky não consegue sustentar o conflito com a Rússia no campo de batalha pelos meios convencionais. É notório que a SBU atua no Brasil, infiltrada na comunidade ucraíno-brasileira, que é relativamente grande, apesar de discreta. Anos atrás, parentes de brasileiros que combateram pelo Donbass na Ucrânia chegaram a receber ameaças de morte. Alguns também foram seguidos na rua, no Paraná, onde a SBU possui maior atuação por causa da concentração ucraíno-brasileira. Nesse sentido, é evidente que seja um fato real, seja uma ameaça falsa, a SBU seria a principal suspeita. E isso de forma direta ou indireta. Por "forma indireta" é necessário pensar em primeiro lugar nos grupos neonazistas brasileiros, a maioria dos quais possui vínculos com organizações análogas na Ucrânia e até com os setores de segurança daquele país, como os membros do Misanthropic Division Brasil até porque alguns desses neonazistas brasileiros lutaram pelo lado ucraniano no passado ou foram para lá para serem treinados. A instrumentalização de membros desses grupos para atentados terroristas contra alvos russos ou pró-russos no Brasil seria algo trivial. Eles precisariam de pouco convencimento e incentivo. Naturalmente, se estivermos pensando ainda em brasileiros natos que poderiam ser instrumentalizados para esse tipo de terrorismo, seria necessário observar aqueles que, de fato, têm estado engajados na difusão da russofobia generalizada e que veem a Rússia como a encarnação do mal. Nisso, o fermento de neoconservadorismo, ultraliberalismo ou olavismo, com as suas tendências às teorias da conspiração, somado com distúrbios comportamentais diversos e com a possibilidade de cooptação consciente ou inconsciente por algum serviço de inteligência, abrem a possibilidade de algo nesse sentido. É claro, em todos os seus atentados terroristas, a SBU sempre contou com algum grau de apoio da CIA e de outras agências de inteligência (como o MI6 e possivelmente até o Mossad). Havendo algum vínculo concreto com a SBU nessa ameaça de ataque terrorista em território brasileiro, é impensável não haver algum grau de colaboração de outras agências de inteligência. Quanto a isso, cumpre recordar que a Embaixada dos EUA em Brasília fica literalmente do lado, colada com a Embaixada da Rússia. Para os que, por outro lado, pensam que a Ucrânia jamais promoveria um atentado terrorista no Brasil contra um alvo russo (ou pró-russo), recordemos que até mesmo o Presidente Lula encontra-se na "lista de morte" das agências de inteligência da Ucrânia, o Myrotvorets, como um alvo a ser eliminado.

https://www.youtube.com/watch?v=wkhYq8WVdtU Como concepções contemporâneas e ianques de "heroísmo" dificultam a valoração de nossa própria história? Um novo olhar sobre a figura do bandeirante.

Toda vez que alguém ao redor do mundo é perseguido, silenciado ou preso por criticar Israel, o sionismo ou alguns aspectos problemáticos do Judaísmo, a única consequência real é o fortalecimento do antissemitismo. Se Israel não pode ser criticado como qualquer outro país, se o sionismo não pode ser criticado como qualquer outra ideologia e se o Judaísmo não pode ser criticado como qualquer outra religião, a mensagem que se está passando é que se trata aí de um segmento privilegiado e excepcional, em relação ao qual não se aplicam as mesmas leis que valem para outros grupos. Fortalece-se, assim, as conclusões que se deduz inicialmente sobre "para ver quem manda no mundo basta ver quem não podemos criticar". É um tiro que sai pela culatra. E, de fato, talvez aqui estejamos lidando com um padrão cíclico na história humana, até.

https://noticiaspia.com/una-vision-profunda-de-sudamerica-entrevista-con-raphael-machado/ A PIA Global veiculou a entrevista que eu dei à revista Trama Internacional, tratando da multipolaridade à luz da América do Sul.

https://www.youtube.com/watch?v=nWY6SXg5hnI Marcelo Rebelo, Presidente de Portugal, pediu "desculpas" pela escravidão e por "massacres de indígenas", e disse serem necessárias reparações históricas. Do que exatamente ele estava falando?

Estudando sobre o sistema político belarrusso me chama a atenção o órgão de nome "Assembleia Popular", que se reuniu ontem e hoje. Trata-se de um corpo de até 1.200 cidadãos, que se reúne aproximadamente 1 vez ao ano, e que é composto por uma seleção de figuras representativas de todos os setores e grupos sociais do país para um mandato de 5 anos (de modo que ele é renovado a toda eleição geral). Esse corpo, que não se confunde com o Parlamento (dividido em Câmara dos Representantes e Conselho da República) me parece recordar um pouco a tradição das Veches russas, especificamente da Veche de Polotsk, as antigas assembleias populares que constituíam o elo de vontade entre os príncipes e os povos, através dos seus representantes (usualmente líderes de clãs). A Assembleia Popular de Belarus, porém, exerce funções que são distintas do Parlamento em si. As decisões da Assembleia Popular tem o poder de cancelar qualquer ato legal ou decisão executiva contrária ao interesse nacional, bem como de estabelecer as diretrizes de longo prazo na política interna, na política externa e no desenvolvimento socioeconômico. Ela ainda supervisiona o processo eleitoral e é a responsável por aprovar a doutrina militar e o conceito de segurança, podendo também decretar estado de emergência e lei marcial. Ela também arbitra conflitos entre órgãos do Estado e tem o poder de propor emendas à Constituição e eleger juízes. Nesse sentido, ela desempenha funções semelhantes ao de uma Corte Suprema no modelo neoconstitucionalista ocidental, mas precisamente por não estar ligada ao Judiciário é muito mais representativa e democrática, possuindo uma natureza quase corporativa (com representantes de todos os órgãos, setores econômicos e profissionais, religiões, etc.) que garante que as vozes de todos os belarrussos sejam ouvidas. É um modelo político bastante interessante que tem garantido estabilidade e continuidade para Belarus, país que tem conseguido se manter na Europa Oriental, apesar das tentativas de revolução colorida financiadas pelo Ocidente, como ainda um baluarte de valores tradicionais e de bem-estar socioeconômico.

Anualmente, as múmias da esquerda brasileira (como as da portuguesa) celebram a Revolução dos Cravos, nome do golpe de 25 de Abril de 1974 que teria derrubado a ditadura de Marcelo Caetano para devolver a "liberdade" a Portugal. Quando me refiro a múmias não é hipérbole. É apenas a gerontocracia da esquerda luso-brasileira que lembra ou se importa com essa data, com os órgãos de partidos fazendo os seus comunicados protocolares e, no caso português, os órgãos públicos emanando a sua propaganda tediosa. Para a maioria dos portugueses é um dia como qualquer outro. Agora, bem, o que os portugueses supostamente estariam comemorando é o advento da "democracia" e da "liberdade", quando antes havia tudo que há de ruim no mundo, já que esses temas sempre são abordados com a moralina infantil das histórias em quadrinhos da Marvel. A realidade é bem mais complexa. Portugal é um país livre? Trata-se de uma democracia? Apenas no sentido liberal do termo, onde a democracia (liberal) é apenas a alternância de partidos, o sufrágio, a divisão de poderes e a obediência ao dogma dos direitos humanos. A "liberdade" aí é a concepção liberal de liberdade, a chamada "liberdade negativa" como definida por Isaiah Berlin, como a ausência de impedimentos para a satisfação da vontade individual. Em qualquer sentido mais substancial de democracia ou liberdade, porém, a situação portuguesa não parece muito interessante. O país passa por uma crise populacional imensa e aqui não me refiro simplesmente ao problema da natalidade, mas ao fato de que 60 mil portugueses, em sua maioria jovens, fogem do país anualmente. Um número um pouco maior de imigrantes chega ao país por ano. Disso se pode deduzir duas coisas: uma, é que o jovem português não vê perspectiva de futuro em seu país, a segunda é que a população nativa está sendo substituída. Nenhuma surpresa na fuga de portugueses quando 37% da força de trabalho está submetida a trabalho precário. Isso não surpreende quando recordamos que a indústria é apenas 13% do PIB português. Também devemos questionar essa "liberdade" em outros níveis. Mesmo sendo prejudicial para os próprios interesses, Portugal segue submissa à UE e à OTAN. Portugal também implementou à risca as medidas da tirania sanitária, ditadas do exterior. No âmbito cultural, as autoridades deixaram a cultura tradicional de lado (transformada em exotismo para turistas) e o capitalismo liberal hoje dita para Portugal a mesma anticultura mundial de sempre, com todas as perversões pós-modernas. Mas bem, pelo menos é melhor do que a ditadura, certo? Novamente, muita gente discordaria. O período do Estado Novo de 1933 a 1974, sob os governos de Antônio Salazar e Marcelo Caetano, viu Portugal crescer a uma média anual de 7% (no período de 1960 a 1974), números espantosos principalmente por não ter sido um surto, mas 15 anos de desenvolvimento continuado. Poderíamos falar ainda no aumento da renda, a ampliação de direitos sociais e trabalhistas, etc. O período, obviamente, não é isento de erros. O caráter conservador, até mesmo reacionário, do regime, na prática, não fez senão tentar represar a maré niilista. Não foi oferecida nenhuma cosmovisão, nenhuma ideologia, nenhuma significação existencial. O regime, também, apesar de planificado, alimentou a burguesia que colaboraria para sua derrubada. Para não falar na adesão à OTAN. Voltando ao 25 de Abril, para além dos mitos da esquerda mumificada, a realidade é que o Estado Novo foi derrubado com o apoio da OTAN e o processo de "democratização" foi conduzido pela CIA. O dia era o do exercício "Dawn Patrol" da OTAN em águas portuguesas, e quando as forças revoltosas da Escola Prática de Cavalaria seriam bombardeadas pela fragata Gago Coutinho foram protegidas pelo contratorpedeiro Huron, o que permitiu a continuação do golpe. Depois, em 1975, chega o agente da CIA Frank Carlucci para coordenar com Mário Soares a construção da Portugal pós-salazarista. Valeu a pena? Não tenho certeza. Para os EUA, certamente valeu.