Pontos da parashá semanal “KEDOSHIM” 5784 Bs”D
Curando a solidão
Nossa parashá começa com o versículo:
“Disse o Eterno a Moisés: Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque Eu, o Eterno, vosso D’us, sou santo.”
As palavras "santo" ou "sagrado" são ambas traduções da palavra "KADOSH" (קדוש), que além de significar essa tradução, tem o sentido de "SEPARADO". Assim como um homem santo está em um nível diferente, separado dos demais, da mesma forma quando um homem consagra sua esposa, em Hebraico "KIDUSHIN", ele a separa do resto do mundo, tornando-a exclusiva para si.
No ano passado, discutimos esse tema, mas para aprofundar um pouco mais, visto que a porção completa nos relata mandamentos e deveres que devemos cumprir em um mundo físico e material, para alcançarmos um nível de santidade, "KEDUSHA".
Um problema que enfrentamos na sociedade atual é a solidão. Vivemos em uma época da história humana com mais pessoas do que nunca no planeta. Habitamos em cidades gigantescas e estamos conectados ao mundo inteiro da palma da nossa mão. No entanto, ainda assim, muitos sofrem com a solidão.
Não estou falando de estar fisicamente sozinho; é possível estar sozinho e ser feliz. O problema surge quando mesmo em meio a uma sociedade, um casamento ou qualquer outro relacionamento, ainda nos sentimos solitários. A Torá orienta que não é bom para o homem estar só. Portanto, Deus poderia ter criado os 8 bilhões de pessoas de uma vez, não precisaria criar um ser solitário e, mesmo assim, colocar sobre ele toda a responsabilidade de sua vida.
Para tornar-se uma pessoa santa, em um nível superior aos demais, a Torá nunca exige que você se isole do mundo, se esconda nas florestas ou nas montanhas. Ela não diz que você precisa recorrer a substâncias externas para se animar ou se motivar. Mais ainda, a Torá jamais diz que você precisa ser uma pessoa religiosa para ser santa. Ela afirma claramente que você deve ser santo, porque o Eterno é santo.
Há uma regra não escrita que todos conhecem, que diz que "semelhantes se atraem". Em outras palavras, se deseja ser santo, comporte-se como o Eterno, que é verdadeiramente santo.
Você já ouviu a frase: "coincidência é a forma que Hashem se revela no mundo". Além de perceber as coincidências em sua vida como manifestações de Hashem ao longo do seu caminho, a Torá nos lembra disso, como vemos logo no início da parashá: "Cada um temerá a sua mãe e a seu pai, e guardará os meus sábados. Eu sou o Senhor vosso Deus" (Levítico 19:3), relembrando nossa ligação com a criação através de nossos pais, fazendo parte de uma história genealógica desde a criação. Não estamos sós! E ao lembrar do Shabat, percebemos que Deus, que criou o mundo e fez o pacto com o povo judeu para guardar o Shabat, continua presente, tanto como no início. Ele não mudou, e Ele está com você.
Assim, ao longo da parashá, a lição mais importante sobre a cura da solidão é expressa na famosa frase (e daqui mesmo): "amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico 19:18). A Torá nos diz que se desejamos curar a solidão, a depressão, e sermos pessoas santas, mais conectadas e ligadas ao Eterno, devemos fazer o bem aos outros, cuidar dos relacionamentos com os demais seres humanos. É fácil evitar relacionamentos por qualquer motivo ou mágoa do passado, mas no fundo, nossa alma anseia por contato humano, por relacionamentos saudáveis.
Por isso, nesta parashá, vemos que é proibido idolatrar ídolos e usar máscaras: "Não vos virareis para os ídolos nem vos fareis deuses de máscara" (Levítico 19:4). Os ídolos são as imaginações e fantasias que vemos no mundo, e as máscaras são as que colocamos em nós mesmos para que o mundo não nos reconheça. Para amar o próximo como deveríamos, precisamos remover nossas máscaras e entender que, às vezes, o outro também está usando uma máscara. Não caiamos na ilusão que pessoas inseguras podem transmitir. Sejamos autênticos e honestos, e descobriremos que diante de nós está uma pessoa que jamais imaginávamos conhecer.