Raphael Machado

https://www.youtube.com/watch?v=aVw5DRI0bH8 Estarei agora participando de uma live com o Brasileiro de Aço.

Antigamente era a direita quem dizia que o mundo do trabalho estava ficando cada vez melhor, que os trabalhadores estavam ficando cada vez mais prósperos, que estávamos vivendo no melhor dos mundos possíveis, etc., e que os jovens que reclamavam eram vagabundos ou imprestáveis. Aliás, era pauta da esquerda apontar para a aceleração e financeirização do capitalismo, que devorava o poder de compra do trabalhador e precarizava a sua existência em sua fase neoliberal. Ela comparava com períodos passados para apontar que a situação do trabalhador já foi melhor em nosso país. Um operário de chão de fábrica como o Lula, no final dos anos 70, conseguia adquirir uma casa própria, um carro, casar e criar 3 filhos. Comparem isso aos cubículos em que vivem os jovens com formação superior (e especialização) hoje - alugados, solitários, sem carro. Essa, aliás, é a própria lógica férrea do Capital, que durante a Guerra Fria precisava de uma fachada social-democrata para poder entorpecer o proletariado, ao mesmo tempo em que o próprio modo de produção precisava de um alto grau de estabilidade e regularidade laboral, o que favorecia a aquisição de terreno/casa e a construção de uma família. Hoje, aparentemente, virou papel da esquerda brasileira dizer que vivemos na "melhor das eras", que no passado todo mundo morria de fome, que todo mundo era miserável, que nossas vidas estão ficando cada vez melhores, e tudo isso enquanto toda evidência material aponta para nunca termos estado tão humilhados, expropriados e alienados quanto hoje. O esquerdista liberal brasileiro é, hoje, a própria definição do escravo feliz que atua como "capataz" contra qualquer um que ouse reclamar do "admirável mundo novo".

https://www.youtube.com/watch?v=6pZZnZeC9po O que realmente querem os políticos e influenciadores que vão aos EUA implorar por sanções contra o próprio país?

https://strategic-culture.su/news/2024/07/02/autogolpe-na-bolivia-o-problema-das-teorias-conspiratorias/ Escrevi para a Fundação Cultura Estratégica uma crítica das teorias conspiratórias sobre o golpe boliviano, bem como uma análise sobre a possibilidade de uma influência estrangeira sobre a situação.

Quase como uma espécie de mal-estar contagioso, como uma sombra negra, alastra-se por alguns setores da direita brasileira uma impressão de que, talvez, o capitalismo não seja realmente um modo de produção compatível com os valores de uma civilização tradicional. Os acometidos por este mal-estar (usualmente jovens que não fazem parte do esquema piramidal de coaches e youtubers "de direita") olham de soslaio para os lados, quase como se estivessem envergonhados de perceber que talvez tenham sido enganados e entrado em uma furada ao defender "qualquer coisa" contra a fictícia "ameaça comunista". Aliás, muitos também já começaram a perceber que talvez o "Foro de São Paulo" seja apenas um bicho-papão, que talvez a China não esteja minimamente interessada em "corromper nossa cultura", que talvez os EUA e Israel sejam fontes de boa parte dos nossos problemas, e por aí vai. Cada dia é uma nova descoberta. Deve ser interessante estar chegando nessas conclusões agora. Tem-se um novo mundo diante dos próprios olhos. Em geral, essas pessoas, por inércia, ainda permanecem em seus "partidos" e "movimentos", até porque em muitos casos elas ainda têm vergonha de admitir o "desencanto" com Mises, Hayek, Rothbard, Rand, Friedman, etc. Ou até insistem em referendar esses e outros nomes, sejam do liberalismo clássico ou de suas escolas mais recentes - mesmo quando já não acreditam realmente em mais nada daquilo. Um fator, aí, é a sedução de um "outro conservadorismo" que essas pessoas passaram a conhecer graças à internet. De Putin a Orban, de Bukele a Le Pen - os mais ousados já se interessam por Khamenei e por Assad. Aparentemente, o Estado não era o problema, mas quem o controlava. Como uma arma, o Estado serve ao Bem quando é bem conduzido por bons homens, e serve ao Mal quando é mal conduzido por homens ruins. Pode parecer óbvio para nós, mas para o liberal desenganado é um salto revolucionário. Por que se não fosse verdade, então por que o Ocidente liberal afunda e as ordens "estatistas", iliberais, etc., triunfam? Afinal, se a questão é a defesa de certas virtudes e valores espirituais, culturais e estéticos, como se pode salvar a civilização confiando no mercado? Como reagir ao fato de que tudo aquilo que odiamos e que destrói as coisas que amamos é criado, financiado e apoiado por grandes empresas privadas? Como lidar com isso...senão pelo Estado - um Estado que seja nosso, e não "deles", claro. Ainda tem muita coisa para acontecer, mas tal como está surgindo uma "esquerda conservadora" no Brasil também está surgindo uma "direita antiliberal", e tudo vai começar a se encaixar no lugar quando as pessoas isoladas que passam por essas transformações interiores perceberam que não estão sozinhas e que talvez não sejam a exceção.

https://www.dailymotion.com/video/x91b19q Estive hoje na Telesur para comentar sobre as transformações políticas que podem se dar no Irã.

https://www.youtube.com/watch?v=1Ty1xe5mFM0 Os nacionalistas franceses tiveram bons resultados eleitorais nas eleições europeias e nas eleições legislativas francesas. Em que isso pode afetar o Brasil?

Percebe-se a indigência brasileira em relação à política internacional quando nenhum analista, excetuando nós e os nossos, é capaz de usar as chaves corretas para entender, no concreto, a política francesa. Outro dia vi um cidadão falando que o Reagrupamento Nacional foi fundado pelo Steve Bannon (que, aparentemente, virou a "chave explicativa" que a esquerda usa para tudo hoje em dia) - quando o partido nasce em 1972... Um outro referiu-se à Le Pen como "neocon", o que simplesmente está longe de até mesmo fazer um sentido aproximado e analógico - já que o "neoconservadorismo" envolve neoliberalismo + individualismo + defesa de valores puritanos + sionismo. Na França, os neocons são os sarkozystas e zemmouristas. Um outro, que se crê muito antenado com os BRICS e a temática multipolarista, vem com a narrativa de que o RN está sendo fortalecido para promover a guerra contra a Rússia. Mal sabe do histórico de votação parlamentar do RN, as conexões político-empresariais entre o RN e a Rússia ou que foram eles os observadores eleitorais franceses em Donetsk e Lugansk anos atrás. Uns libertários brasileiros se alegram com a notícia de "vitória da direita francesa", achando que está falando de um fenômeno semelhante ao Javier Milei - enquanto outros correr para alertar que o RN é, na verdade, comunista. Liberal-conservadores unem vozes preocupadas alertando, também, que a Le Pen, na verdade, defende todas as pautas progressistas e é apenas anti-imigração - quando, na prática, o partido tem sido o único a se opor a todos os projetos globalistas enfrentáveis na França; ele só não é politicamente suicida. O fenômeno do nacionalismo francês não tem como ser encaixado e empacotado em boa parte dos outros fenômenos políticos da suposta (mas inexistente) extrema-direita. Ali o que se tem é um partido neogaullista, dirigista, com toques social-democratas, que é crítico da imigração em massa e das pautas globalistas. Sua base eleitoral é a do proletariado, agricultores e classe média, e a sua linha geopolítica é telurocrática. O problema fundamental aí é de fundo intelectual. As pessoas, por preguiça ou falta de tempo, não querem entender o mundo a partir da realidade objetiva, mas fazer deduções sobre o mundo a partir de categorias abstratas e teorias puramente narrativas. É mais confortável assim. O mundo é mais claro quando nos recusamos a pensar.

Um detalhe curioso da análise sociológica é que 10% daqueles que votaram em Melenchon nas últimas eleições presidenciais passou para o campo eleitoral patriótico e votou agora no partido de Le Pen. Ademais, 6% dos filiados ao Partido Comunista Francês também votou no Reagrupamento Nacional. De um modo geral, na França vemos as mesmas dinâmicas eleitorais típicas da crise do liberalismo político e da pós-modernidade, mas radicalizadas pelo problema da imigração em massa, pela ameaça de guerra civil, pelo aumento do custo de vida, por reformas neoliberais impopulares, pela imposição forçada do wokismo e pela política externa desastrada de Macron.