Victor Metta

Não se engane. BTC não é moleza. É um mega faroeste. Se perder, não tem como recuperar sua senha. É auto-custódia. Não tem gerente, advogado ou papai pra te ajudar. Tem vc e seu estudo contra um bando de bandido doido pra te pegar no primeiro deslize. Aceite. Mas o protocolo é sólido, então se vc se der mal, provavelmente foi culpa sua. Não estudou, não ficou atento, bobeou. Ambiente de adulto. A realidade crua do mundo como ele sempre foi, só que melhor. Eu curto.

Imagine-se pouco mais de 100 anos atrás. Não existia Fed, não existiam praticamente bancos centrais. Vc poupava algum recurso, trocava em dólar, guardava e podia manter o valor do que poupou. Simplificando, era simples assim. É um direito básico poder fazer isso. Então tivemos guerras mundiais, acabou o padrão ouro, o dinheiro começou a ser desvalorizado, e vc se vê defrontado com uma escolha sinistra: “entre no jogo dos investimentos ou perca tudo com o tempo. Mas fique tranquilo! Vc tb pode ganhar!” Como esse jogo exige conhecimentos específicos, vc acaba sendo obrigado a entregar a outro a gestão da sua poupança, e como diz o Renatão, “a base de toda corrupção é a separação entre propriedade e controle.” O que não falta é golpe institucionalizado. Open secret. Aquele tipo que todo mundo conhece e finge que não vê, até que chega a esquecer que exite. Tipo acreditar no índice de inflação. Tipo falar em juro real desconsiderando o imposto. Tipo acreditar no valuation e nos deals de Fundo Imobiliário, na falta de conflitos de interesses de gestores, no efeito das taxas no longo prazo, no fato que a imensa maioria dos fundos e ativos perde pro mero CDI, e a lista vai longe… É justo querer participar desse jogo. É até viciante. Mas vc não deveria ser obrigado a isso. E hoje não é.

Tem também a questão cultural de que os gestores se sentem protegidos pelo consenso. Afinal, todo mundo errou junto…. Pra piorar, uma parte significativa dos investimentos são feitos de forma passiva, via ETFs, ou seja, só seguem o mercado. Em cima disso, surgem os fundos de tendências, que só seguem “o que está pegando” no momento. some-se o copy trading, que eh quando um trader permite que outros repliquem seus trades. Então…manipuladores de mercado sempre existiram, mas agora, nesse cenário de maria-vai-com-as-outras institucionalizado, eles ganharam capacidades excepcionais.

Forward guidance é quando um banco central ou empresa listada em bolsa diz quais serão seus próximos passos e expectativas, pro mercado se preparar…exceto se ele mudar de ideia e só contar pros amigos mais chegados, que é o que quase sempre acontece

Fui num comício do PT Na verdade era uma promessa de entrega de obra, mas transformaram num comício, com o Lula presente e diversos ministros. Foi uma experiência interessantíssima. Eu caí lá por acaso. Passei, vi e resolvi ouvir. O público, cerca de 800 pessoas, era claramente de militantes, provavelmente funcionários da prefeitura petista local. Bandeiras free palestine, travecos, gente estranha e tudo isso que já imaginamos, mas tinha outro perfil presente, que parecia ser de empresários de bom nível, numa ala mais à frente. Política também é business. O mais interessante foi que eu prestei atenção nos discursos. Primeiro falaram os técnicos, secretários e etc., o discurso deles era mais comedido. Falavam dos benefícios daquela promessa de verba pra cidade. Aí entraram os políticos locais, como o prefeito e ministros menores. O papo começou a mudar. No meio dos discursos entravam referências fora de tema aos “mitos fundadores” da nova presidência do Lula. O negacionismo, o 8 de janeiro, o golpe, a democracia, etc. Era só usar essas expressões do nada que o público respondia exatamente como se espera quando se solta esses dog whistles da militância. Aí entraram os discursos dos ministros mais ideológicos. Mais do mesmo, mas o tom subiu. Então entra um sujeito de uma dinastia política, que de ideologia não tem nada mas que ao oportunismo deve tudo. Conheci muitos desses no governo anterior. Quase foi às lágrimas falando do Lula. Os dog whistles foram ajustados e já não eram pra militância, mas pro chefe. O público urrava. Era um ator trabalhando e nada mais. Um profissional. Por fim, o Lula. O psicopata em toda sua inglória, mas podia ser um empresário de sucesso contando sua história. Falou da origem, do corinthians, das derrotas, da perseverança, do que combinou com Fidel (era o Foro de São Paulo sem citar o nome), como passou a dizer a mesma coisa em tom leve (“lulinha paz e amor”) e então teve um sucesso atrás do outro. Tudo aberto. E era tudo verdade. Citou muito um mega empresário que o apoiou em sua caminhada (oportunistas, sempre eles). Disse que tudo que queria era que o filho do pobre pudesse estudar junto com o do rico. Não disse quase nada que causaria espanto se não se soubesse a história de quem estava falando. Eu pude ficar, ouvir e analisar porque ouvi sem ódio, com frieza. Era como se eu pudesse participar de um comício do Lenin em 1917. Não tinha raiva daqueles coitados no público (também longe de sentir compaixão) nem dos que estavam no palanque, eu os via como autômatos. Oportunistas que usam a ideologia e também são usados por ela, de forma que ambos avançam. Os desqualificados no público nem o emprego teriam. Os do palanque teria que produzir de verdade. Mas de onde veio essa frieza toda? Ouvir esses sujeitos prometerem verbas e mais verbas sabendo que eles iriam “imprimir” todo o dinheiro e desvalorizar o fruto do trabalho de tantos. Três letras.

Prioridades, claro

Saifedean Ammous sacou o bitcoin, mas é palestinista. Paula schmitt sacou a covid, mas é de esquerda (e palestinista). Taleb teve sacadas ótimas sobre economia e conduta humana em seus livros, mas desmoronou na covid. O homem com maior QI do Brasil, Hindenburg Melão, não entendeu o bitcoin… It’s not a flaw. It’s a feature. A ideia é que nos somos entendidos em pouca coisa e ignorantes em todo o resto. E tendemos a idealizar as pessoas como se fossem o oposto. Ps: O que eu posto aqui eu não estou só dizendo pra vcs. Estou dizendo pra mim mesmo. Eu também me incomodo quando vejo alguém que admiro em algum campo falando besteira sobre outro.

Um amigo mandou essa mensagem num grupo: “parece que hj em dia, nao da nem pra ter sucesso nem se foder sozinho. Sempre é preciso que os outros validem seu sofrimento ou paguem pau” Pouco depois eu vejo esse post q abaixo falando da personalidade do manipulador. Vejam como se aplica perfeitamente ao clima das redes sociais. Somos tao manipulados que o espírito do nosso tempo é o de manipulação! https://x.com/deepwisdom_/status/1792764734393200830?s=46&t=QFcshnqvfj2BW0ZeZS4LJA

Burrice é muito mais perigosa que maldade. Com o maldoso dá pra lidar. Já o burro prejudica a si mesmo, e nem percebe. O burro é praticamente imprevisível.